quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Investimento em inovação é essencial

De acordo com especialistas, se nada for feito nesse sentido, o Brasil certamente vai ficar para trás.


ALISSON J. SILVA
Burocracia impede que as indústrias consigam desenvolver mecanismos inovadores de maneira eficaz
Burocracia impede que as indústrias consigam desenvolver mecanismos inovadores de maneira eficaz

Mais que as reduções da carga tributária e de gastos na produção industrial brasileira, o fomento à inovação tem sido considerado por especialistas como a melhor estratégia para recuperar a competitividade da indústria nacional. Na avaliação de economistas consultados pela reportagem, o país não tem conseguido acompanhar as rápidas e intensas mudanças pelas quais os processos produtivos em todo o mundo têm passado e, já desfavorecido pelo custo Brasil, tende a ficar ainda mais atrasado e menos competitivo.

"A dimensão das soluções inovadoras que vemos atualmente alteram, de maneira definitiva, o modus operandi da indústria, tornando obrigatório o desenvolvimento dessas iniciativas em todas as etapas, desde a gestão, passando pelos processos produtivos, até o produto final. Se nada for feito neste sentido, o Brasil certamente ficará para trás", alerta o consultor de investimentos José Aristides Souto.

Ele argumenta ainda que a implementação de ações para o desenvolvimento da inovação pode trazer benefícios muito mais homogêneos e duradouros à indústria do país que os atuais planos em execução pelo governo federal.

"O Brasil Maior, por exemplo, beneficia somente aos segmentos mais fortes da indústria, ou seja, aqueles capazes de fazerem o melhor lobby, deixando de fora outras cadeias que passam pelos mesmos problemas de produtividade e competitividade. Além disso, as reduções de impostos e os incentivos à exportação e à produção estabelecidos no programa têm efeito paliativo, o que significa que apenas abrandam os entraves existentes, mas não os resolvem".

Apesar disso, o Brasil parece estar caminhando na direção oposta. Além de esquivar-se cada vez mais de realizar as tão propaladas reformas tributária e trabalhista, implementando apenas medidas protecionistas setorizadas, como no caso da indústria automobilística e de calçados - ameaçadas principalmente por concorrentes asiáticos -, a enorme burocracia existente impede que as empresas mais interessadas consigam desenvolver mecanismos inovadores de maneira eficaz.

Enquanto no Brasil uma patente leva cerca de oito anos para sair do papel, a média em países desenvolvidos e também nos demais integrantes do Bric (Rússia, Índia e China) não passa de quatro anos. De acordo com dados da Organização Mundial da Propriedade Intelectual, em 2010 a China concedeu 93.706 patentes, a Rússia, 28.808 e a Índia, 18.230. Já o Brasil registrou apenas 3.620, o que equivale a somente 3,8% do volume de concessões expedidas pelo principal concorrente asiático do país.

A constatação dos especialistas é de que sobra burocracia e faltam melhorias na legislação, infraestrutura e mão de obra especializada até mesmo na autarquia federal responsável pela regulação de iniciativas inovadoras, o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi).


Exemplos - Mas ao contrário do que se desenha no atual cenário, o desenvolvimento de atividades e produtos inovadores não costumava ser um problema para o país há algumas décadas. De acordo com o professor de Economia da Trevisan Escola de Negócios, Alcides Leite, o boom econômico pelo qual o país atravessa somente foi possível em razão de um forte processo de inovação desenvolvido anos atrás.

"O que hoje o Brasil colhe de melhor é fruto de inovações feitas no passado. São exemplos o desenvolvimento do etanol, de técnicas da Petrobras para a exploração de águas profundas, no caso do pré-sal, e os avanços da atividade extrativa mineral e dos setores naval e aeronáutico, com a Embraer capitaneando a criação de modelos de aviões mais econômicos. O excelente desempenho da agropecuária em nível mundial também é resultado de pesquisas e ações dirigidas pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária)", explica Leite.

"Os Estados Unidos conseguiram se reinventar economicamente durante as crises do petróleo a partir do desenvolvimento do setor de tecnologia da informação", afirma o professor.

Fonte: Diário do Comércio

Nenhum comentário:

Postar um comentário